6/07/2006

Embargo ao Mel Brasileiro x Mercado Interno




Pequenos apicultores apostam no potencial do mercado interno.

Brasília - No momento em que a União Européia deixa de autorizar a importação do mel brasileiro, o mercado interno torna-se uma alternativa para os pequenos apicultores. Investindo em qualidade e produtividade e aliando a isso uma boa dose de criatividade, associações e até mesmo produtores que atuam de forma isolada começam a conquistar fatias representativas dos seus mercados regionais, provando que a venda de mel no País tem espaço para crescer.

Em Apodi, cidade situada no Alto Oeste do Rio Grande do Norte, a Cooperativa Potiguar de Apicultura (Coopapi), que reúne 89 apicultores, tem trabalhado o mercado regional de forma exemplar. Em 2005, após uma série de articulações com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), passou a fornecer mel para a merenda escolar da rede pública de ensino dos municípios da região, atendendo a nada menos que 103 mil alunos.

A articulação com a Conab, que teve apoio do Sebrae no Rio Grande do Norte e de uma série de entidades governamentais e não-governamentais da região, praticamente garantiu a venda de toda a safra 2005 da Coopapi. Foram comercializadas 12 toneladas, que renderam cerca de R$ 80 mil à cooperativa. ?Foi uma receita boa para os apicultores, que tiveram mercado garantido?, diz Fátima Torres, a diretora financeira da Coopapi.

Os recursos já estão sendo reinvestidos, tanto na melhoria da produção quanto na infra-estrutura da cooperativa, que agora tem computadores novos e em breve terá uma página na Internet. ?É gratificante ver que o fruto desse esforço nosso e dos nossos parceiros começa a dar os primeiros resultados?, assinala o presidente da Coopapi, Antônio Urbano da Silva.

Para comercializar para a rede escolar por meio do convênio com a Conab, a Coopapi conseguiu o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF) para os sachês que a própria cooperativa distribui nas escolas. Além disso, os cooperados se mobilizaram para reativar o Entreposto de Mel e Cera de Abelhas Francisco Germano Silveira Neto - ME, do município vizinho de Rodolfo Fernandes (RN).

Em Brasília, também tem ocorrido movimento de inflexão para o mercado regional, graças ao trabalho desenvolvido pela Associação Apícola do Distrito Federal, que congrega 140 apicultores. ?Temos um mercado consumidor forte e o que estamos fazendo é investir em qualidade e produtividade para divulgar o mel como um alimento de excelência, que traz benefícios à saúde dos consumidores?, assinala o presidente da Associação, Nilo da Silva Macedo.

Militar da Reserva, Nilo Macedo, ou simplesmente coronel Macedo, como é conhecido entre os apicultores, é um entusiasta da qualidade na apicultura. Segundo ele, esse é o principal quesito para difundir o mel no mercado interno como produto imprescindível na alimentação. ?Claro que é preciso estruturar ações para divulgar o mel e seus derivados, mas é preciso investir em qualidade?, avalia.

Para o casal de apicultores Autran Feitosa Rocha e Marinalva Felipe Rocha, o mercado regional sempre foi o alvo. Há dez anos, adquiriram uma pequena propriedade no povoado de Sucupira, pertencente à cidade de Nossa Senhora das Dores, a 83 quilômetros de Aracaju (SE). Hoje, o local, batizado de ?Mimo do Céu?, é ponto de referência para os turistas que vistam a represa de Xingó, no estado vizinho de Alagoas.

No início de fevereiro, um comprador parou no ?Mimo do Céu? e comprou nada menos que 200 pacotes, cada um com sete sachês de pinga com mel. ?Ele disse que ia levar para ver o show dos Rolling Stones no Rio de Janeiro?, diz Marinalva. ?Mas eu acho que ele comprou mesmo foi para revender lá, porque com 200 pacotes de pinga com mel duvido muito que ele tenha conseguido ver algum show?, brinca.

Questionada se a proibição da União Européia prejudica seu negócio, Marinalva é enfática. ?Claro que isso não é bom para os apicultores, mas a gente sempre procurou trabalhar o mercado da região, por isso, no nosso caso, isso não vai afetar muito?, explica.

Potencial

Na avaliação do agente de mercado John Laurino, da empresa de comércio exterior Unit Brazil, de São Paulo, há um grande potencial para elevar o consumo de mel no mercado brasileiro. No entanto, ele afirma que esse é um trabalho que demanda tempo, recursos e articulação mais efetiva de todo setor, ou seja, produtores, entrepostos e os próprios agentes de mercado.

?O mercado interno é de fato uma alternativa, mas acredito que a organização em torno de uma estratégia para elevar o consumo do produto no País demanda muita articulação e, até lá, esse embargo da União Européia já deverá estar suspenso?, assinala.

No fim de fevereiro, a União Européia anunciou a proibição da importação do mel brasileiro, alegando falta de controle de resíduos biológicos no mel exportado pelo Brasil. A decisão foi tomada não porque o mel brasileiro tivesse apresentado resíduos ou contaminantes, mas pela falta de um plano de controle.

No início de março, após reunião de representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com o setor apícola, foram anunciadas medidas para reverter a decisão. Uma delas foi a publicação no Diário Oficial da União do Programa Nacional de Controle de Resíduos (PNCR 2006).

O Programa Nacional de Controle de Resíduos (PNCR) é reajustado a cada ano para oferecer as garantias de controle e monitoramento da distribuição de resíduos exigidos pelo consumidor nacional e pelas autoridades sanitárias estrangeiras, não apenas para o mel como também para produtos como carne bovina, suína, aves, leite, ovos e pescados.

Com o PNCR publicado, o governo brasileiro pretende negociar com União Européia prazos para sua implementação. Está sendo programada a ida de uma missão a Bruxelas para as negociações. Com isso, a parte regulatória estará cumprida. Ficará sob a responsabilidade dos empresários do setor as ações de controle complementares, indispensáveis para que as garantias exigidas sejam plenamente atendidas.

Exportações

Em 2005, a exportação de mel brasileiro atingiu 14,4 mil toneladas, gerando uma receita de US$ 18,9 milhões para o País. São Paulo (US$ 7,72 milhões), Ceará (US$ 3,4 milhões), Piauí (US$ 3,05 milhões) e Santa Catarina (US$ 2,93 milhões) foram os principais estados exportadores.

Mais de 70% do total das exportações brasileiras foram para a União Européia (11,1 mil toneladas e US$ 14,4 milhões), sendo a Alemanha o principal importador (US$ 8,1 milhões e 6,2 mil toneladas).

Pelo menos no primeiro bimestre de 2006 o embargo europeu não afetou as exportações do mel brasileiro. O desempenho das exportações, comparado ao igual período de 2005, teve aumento de 95% no valor das exportações (de US$ 1,69 milhões para US$ 3,30 milhões).

?Certamente o embargo europeu ao mel brasileiro vai representar queda na receita do setor apícola e com impacto nos produtores de todos os portes, inclusive os pequenos, que terão queda na renda?, avalia o agente de mercado John Laurino, da Unit Brazil.

Serviço:
Agência Sebrae de Notícias ? (61) 3348-7494

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