9/09/2010

Fertilizantes Orgânicos : "a bola da vez".



Segundo a FAO a população mundial em 2050 alcançará 9 bilhões de pessoas contra 6.8 bilhões de hoje. Esse aumento populacional de aproximadamente 30% combinado com a limitada possibilidade de expansão da área agricultável e a crescente restrição hídrica do planeta revela um dilema que tem sido pauta das reuniões estratégicas em todos os fóruns internacionais há vários anos : como alimentar tanta gente ? A resposta óbvia é : aumentar a produtividade agrícola que, em larga medida, depende da fertilidade dos solos. A melhoria tendencial da renda nacional em vários países populosos e nas economias emergentes indica que a demanda por alimentos crescerá, na média, mais do que a população mundial.  Portanto a demanda global por fertilizantes seguirá firme, num ritmo de crescimento sólido ao longo das próximas décadas.
 Este cenário de longo prazo prevalecerá independentemente dos ciclos econômicos e do eventual arrefecimento da demanda durante os períodos de crise.
 A indústria de fertilizantes dominante tem como base produtos minerais, utilizando matérias primas de fontes e reservas fósseis e portanto finitas. Ao mesmo tempo o processo de fabricação de fertilizantes é intensivo em energia.  Nos últimos anos, a combinação explosiva de elevação dos preços do petróleo e do gás natural com a forte e crescente demanda por grãos (principalmente por parte da China) originou um movimento de altas expressivas no preço internacional médio dos fertilizantes minerais, levando muitos produtores a incluir em suas estratégias financeiras o “hedge” contra a flutuação destes custos. Por exemplo, entre 2005 e 2008 os preços de fertilizantes pagos pelos fazendeiros norte-americanos subiram 33% para o Nitrogênio (N), 100% para os fosfatos (P2O5) e 100% para o potássio (K2O).
Na China, a ameaça de uma oferta insuficiente levou o Governo, em 2008, a impor tarifas de 135% sobre a exportação de uréia e fosfatos. Atualmente os preços médios dos fertilizantes químicos recuaram para os níveis de 2005 devido à retração dos mercados originadas na crise financeira global de 2009 mas a escassez de oferta e a escalada dos preços de 2008  definitivamente incluiu a questão da fertilidade dos solos e do acesso aos fertilizantes na pauta dos assuntos estratégicos dos principais países do mundo.

No Brasil, há discussões no âmbito do Governo Federal para se criar uma empresa voltada à produção de fertilizantes e assim reduzir a dependência de insumos importados (aproximadamente 91% para Potássio, 49% para fosfatos e 75% para Nitrogênio). Nas bolsas de valores internacionais as ações das empresas fabricantes de fertilizantes estão entre as mais valorizadas da última década. Recentemente a gigante canadense Postash Corp recusou proposta bilionária ($ 39 bi) da BHP Billiton, pois seus acionistas acreditam que o mercado favorável no futuro próximo resultará em uma valoração acima do previsto atualmente. A Vale do Rio Doce recentemente adquiriu as unidades de fertilizantes da Rio Tinto e da Bunge (Fosfértil), despontando como a empresa brasileira com mais expressão internacional nesse segmento. A Vale tentou também adquirir a Mosaic Corporation (EUA), porém sem sucesso.
Ao mesmo tempo, tem-se como tendência inexorável o aumento da demanda por produtos orgânicos que por sua vez tem como pano de fundo uma crescente consciência global e desejo por produtos mais saudáveis oriundos de projetos ecologicamente sustentáveis e que preservem o meio ambiente.  Isso representa um potencial gigantesco para o segmento dos fertilizantes orgânicos, entendidos como aqueles que provém de resíduos animais ou vegetais ou suas combinações. Ainda incipiente em todo o planeta, o segmento dos fertilizantes orgânicos caracteriza-se pela pulverização, ou seja, há milhares de pequenos produtores em contraste com o oligopólio das grandes multinacionais que controlam o setor de fertilizantes químicos. Depender menos das gigantes multinacionais e ao mesmo tempo promover o uso de fertilizantes “verdes” tem sido música para os ouvidos de muitos fazendeiros em todo o mundo e é, do nosso ponto de vista, uma tendência irreversível para o futuro. O segmento de fertilizantes orgânicos carece no entanto de algumas melhorias tais como a padronização de categorias de produto, o maior conhecimento da toxidade de cada um deles e a produção de ensaios técnicos sobre sua efetividade por tipo de cultura. Nesse sentido várias associações e entidades já foram constituídas em vários países e é crescente a interação entre elas através de conferências e congressos internacionais. O cenário econômico é portanto muitíssimo favorável ao segmento de fertilizantes como um todo e, em especial, ao setor de fertilizantes orgânicos que deverá crescer a taxas proporcionalmente mais elevadas nas próximas décadas.

O Brasil representa o 4º maior mercado para fertilizantes no mundo, importando 69% de sua necessidade total (NPK), portanto o mercado interno deve ser prioritário para qualquer empresa do setor. No entanto, para o segmento de fertilizantes orgânicos, projetos de exportação podem garantir os seguintes benefícios :

·        a)  Diversificação de Ativos : a dispersão geográfica da base de clientes resulta numa proteção comercial contra movimentos adversos no mercado doméstico. Ou seja, as exportações tendem a reduzir o risco operacional da empresa.
·         b) Proteção cambial : as exportações geram um fluxo de contas a receber em moeda estrangeira (em geral dólar americano) que pode ser utilizado como garantia real para aquisição de equipamentos ou insumos importados, proporcionando um “hedge” parcial contra oscilações bruscas na taxa de câmbio e portanto minimizando o impacto de tais variações no patrimônio líquido da empresa.
·        c) Interação Comercial : o ato de expor a empresa a clientes em diferentes mercados implica num maior intercâmbio de idéias, oportunidades e críticas que oferecem à empresa uma possibilidade de melhorar seus processos, produtos e negócios.