As empresas refletem um conjunto de valores morais, sociais e comportamentais de seus fundadores e/ou acionistas. Quão menor a escala do empreendimento , maior a influência destes valores e o impacto dos mesmos na história da empresa. Esse conjunto de valores é dinâmico e se ajusta à medida em que o tempo passa e as gerações se sucedem.
Invariavelmente, empreendedores buscam lucrar economicamente com seus projetos e negócios. No entanto, há outras variáveis, difíceis de se avaliar, que também fazem parte do leque de objetivos ou elementos que motivam um empreendedor a criar ou manter uma empresa : desejo de alcançar prestígio social, preservar o meio-ambiente, ter poder político em uma região ou simplesmente sobressair-se a um irmão na disputa sucessória.
Ou seja, do mesmo modo que nem sempre contratamos os melhores currículos e optamos pelo candidato mais “desembaraçado” ou com quem tivemos mais empatia, nem sempre uma decisão empresarial é racionalmente “calculada” tendo-se em vista apenas entradas e saídas de caixa ou o balanço patrimonial da empresa.
O problema ocorre quando a personalidade do empreendedor é de tal forma impregnada de vícios e vaidades que conduz a uma série fatal de decisões que acabam por solapar o potencial de crescimento ou sobrevivência da empresa. Por exemplo, faz sentido econômico uma empresa comprometer 40% do lucro anual com despesas de viagem ao exterior ? A resposta óbvia seria “não” para 99% das pessoas. No entanto, se viajar duas ou três vezes ao ano para o exterior e participar de jantares com clientes em Los Angeles faz parte da idiossincrasia pessoal do empresário ou executivo, ele provavelmente encontrará uma justificativa “estratégica” para tal disparate.
Costumo dizer que as empresas são “pessoas”. Se eliminarmos as pessoas de qualquer empresa, o que sobra ? Prédios, computadores, softwares, linhas de montagem, câmaras frias e veículos. Coisas inanimadas que sem o referencial do uso humano não possuem valor. Portanto lidar com empresas significa lidar com seres humanos. Consequentemente, se queremos ser bem sucedidos nessa área, devemos entender ou buscar entender o que nos faz, nós humanos (demasiadamente humanos) felizes ou infelizes, motivados ou apáticos, cooperativos ou sabotadores. Ao mesmo tempo, reconhecer a dimensão humana das empresas implica em abrir mão das construções idílicas e infantis acerca dos sistemas coletivos de trabalho. Ao contrário, devemos usar o conhecimento das fraquezas e vícios das pessoas em nosso favor, ou seja, em favor de um projeto ou negócio. Dito isto, parece ser óbvio que se alguém te ajudou a superar uma crise ou de fato contribuiu para o sucesso de algum negócio, É ÓBVIO que esse alguém espera algum tipo de reconhecimento além do que foi formalmente contratado. Esse reconhecimento pode ser um abraço, um telegrama encorajador, uma garrafa de Chateuax Petrus ou um ingresso para um clássico. Não importa a forma : importa o gesto. O simples conceito de cordialidade pode resultar em mais “lucro” (no longo prazo) do que um financiamento bem negociado ou um contrato recém assinado. Pois contratos são facilmente descumpridos, alterados ou cancelados. Já os vínculos humanos e afetivos, são de difícil dissolução, às vezes indeléveis.
Por incrível que pareça não é tão difícil encontrar empreendedores ignorantes, no sentido de que cognitivamente desprezam a importância dos vínculos humanos para os negócios do dia a dia. Tendo em vista a minha modesta experiência profissional já encontrei diversos tipos de empresários, que consegui classificar (numa lista não exaustiva) como segue abaixo :
1) Empresário Águia : visionário e instintivo, esse tipo de empreendedor tem objetivos claros e raciocínio acurado. Bom para fazer negócios no curto prazo, erra e acerta de modo rápido e contundente, porém tende a superestimar suas competências no longo prazo o que provoca um desgaste nos relacionamentos e torna os vínculos vulneráveis ao movimento dos “números” e das circunstâncias. Ou seja, o empresário Águia é leal porém não é fiel. Em geral as águias são bem sucedidas e “low profile”. Elas sabem que podem voar alto e portanto não precisam ostentar suas capacidades e recursos. Sempre deixam ensinamentos (nem sempre positivos) e mesmo após uma decepção causada, costumam deixar saudades. Ás águias fluem de um ramo para outro com facilidade, aprendem rápido e são maleáveis.
2) Empresário Jumento : limitado cognitivamente é aquele quem (como uma tartaruga em cima de um poste elétrico) nos leva a especular sobre quais sortes e circunstâncias fizeram de tal criatura um empresário. Com intensa vivência nos respectivos segmentos, são em geral inseguros e avessos ao risco. Procuram cercar-se de familiares, amigos e compadres, privilegiando a proximidade em detrimento do talento. São em geral vulneráveis a opiniões de terceiros e pouco afeitos a estratégias e concepções de longo prazo. Vivem o dia-a-dia, centralizando quase todas as decisões e a gestão sobre os processos de trabalho. Ao mesmo tempo em que são doces com os compadres e familiares no âmbito interno, podem ser extremamente cruéis e desleais com os “estranhos”. Fazer negócio com um jumento é bom enquanto você tiver estômago para alimentar a necessidade de autocomiseração típica deste perfil. Certamente você não terá saudade de jumentos que passaram pela sua vida mas mesmo assim você pode ganhar um bom dinheiro com eles.
3) Empresário Rato : inteligentes e agressivos, os empresários ratos estão sempre atentos à oportunidades. O longo prazo não existe para os ratos, vale o “hoje”, portanto não queira discutir muitos planos com eles. Sonegar impostos é um hobby e não se surpreenda se algum deles declarar isso em público, até para estranhos. Empresários ratos não medirão esforços para alcançar seus objetivos mesmo que isso implique em cometer alguns pequenos delitos. Em geral os ratos são pessoas radiantes, cheios de energia e oratória espetacular. Contratos para os ratos são folhas de papel rabiscadas : você pode reconhecer um rato quando a cláusula de penalidade por inadimplência é aquela sobre a qual se gasta mais tempo e energia na negociação. Por sorte, os ratos passam muito rápido por nossas vidas, não costuma dar tempo de aprender nada com eles.
4) Empresário Porco : persuasivos e intrigantes, os empresários porcos são uma espécie em extinção. A velocidade e facilidade através da qual as informações fluem hoje em dia são o maior inimigo deles. Falsificando, fraudando materiais e desaparecendo de cena, os porcos vivem mudando de endereço e são em geral super endividados. Mais comum na área dos serviços, os porcos não “são” empresários apenas “estão” empresários até quando possível.
Empresário Cachorro : de estilo amável e polido, o empresário é bem quisto por todos. Sabe dividir e em geral preocupa-se com o meio ambiente e com aspectos sociais de seus negócios. Amado pelos bancos, paga suas dívidas em dia e fica feliz quando recebe cartões de Natal de seus fornecedores. Não gosta de conflitos e em geral é um exímio negociador. Respeita contratos e paga todos os impostos. Ao defender-se, pode ser agressivo e às vezes letal. Sabe delegar, porém cobra seus subordinados de modo impiedoso. Excelentes clientes, os cachorros deixam marcas e em geral viram “amigos”. Os cachorros tem um apego muito grande ao que construíram, zelando portanto pela imagem e reputação de suas empresas.